Grupo de amigos funda primeiro Clube Autocaravanista Algarvio
A paixão pela natureza e o desejo de reivindicar direitos e deveres do autocaravanismo levou a que, em setembro, se oficializasse esta associação sem fins lucrativos, sediada em Lagoa. Sendo o Algarve uma região onde abunda esta prática, sentiram que pecava na representação dos autocaravanistas.
Os fundadores são Jorge Capela e Mário Ferreira, presididos por Cláudia Pereira. Os membros têm idades compreendidas entre 40 e 65 anos e são residentes nos concelhos de Lagoa e Portimão. Alguns partilham uma relação familiar, mas a maioria conheceu-se em encontros esporádicos, onde o interesse pelo convívio e socialização originou a criação de uma amizade.
As diferentes faixas etárias, possibilidades financeiras e tempo livre disponível fizeram com que cada um se aventurasse neste mundo em diferentes alturas. Contudo, todos têm um percurso semelhante: começaram pelo campismo, passando depois a utilizar carrinhas como veículos de pernoita e, por fim, optaram por investir em autocaravanas. “Os mais velhos já têm mais de 20 anos de autocaravanismo e, num contexto geral, todos estamos dentro deste espirito há mais de 20 anos”.
A ideia surgiu no verão de 2018 num dos fins-de-semana em que os algarvios se reuniram nos Montes Clérigos, em Aljezur. O gosto pelo estilo de vida que a autocaravana permite e as implicações que têm surgido ao longo dos anos, suscitaram a união dos algarvios na defesa de interesses comuns.
“A simples presença do homem no meio natural implica sempre um impacto que não tem que ser necessariamente negativo e pode até ser potencializador de práticas de preservação e defesa ambiental”
Têm como intuito proteger os direitos e divulgar os deveres dos autocaravanistas. Defendem que não devem ser deixados quaisquer vestígios de presença humana por onde se passa, tanto pelos caravanistas como por qualquer cidadão. Explicam que o impacto provocado na natureza se relaciona com as condições disponíveis nos veículos, alertando para a necessidade da distinção de autocaravanismo e campismo selvagem não sustentável: “Para além da necessidade do autocaravanista ter desenvolvido uma atitude de defesa ecológica relativa ao meio ambiente, também a autocaravana tem de assegurar as condições básicas para que a passagem e/ou a estadia não deixem marcas e prejuízo ambiental”.
Em que se distingue este Clube dos já existentes?
Os valores do Clube Autocaravanista Algarvio (C.A.A.) assentam na liberdade e responsabilidade, apoiados na sustentabilidade e regeneração. Priorizam o respeito pela natureza de forma a que todos possam viver momentos agradáveis rodeados do que o mundo, sem alteração do Homem, tem para oferecer. Para a concretização deste desejo propõem formações e sessões de esclarecimento à população; reciclagem de lixo nas ASA (Áreas de Serviço para Autocaravanas); ações de limpeza e saneamento de locais antes e depois da estadia. Sugerem ainda a promoção de hortas biológicas e dos seus produtos em mercados nas ASA e reutilização das águas cinzentas para composto em hortas locais.
“A nossa missão é promover e divulgar as boas práticas do autocaravanismo, nomeadamente promovendo soluções para dúvidas e receios com que diariamente um autocaravanista se depara”
Consideram também relevante proporcionar experiências em autocaravanas, bem como a utilização de produtos ecológicos, tais como detergente de loiça manual eco, guardanapos de pano ou reciclados, papel higiénico reciclado, sabão vegetal, champô sólido e sabonetes artesanais biológicos.
Embora os resíduos deixados em vários locais sejam apontados por muitos, as penalizações nem sempre ocorrem. O C.A.A. argumenta que a penalização deveria ser efetuada em conjunto com a divulgação entre associações e empresas de aluguer de autocaravanas para quem não cumpra regras básicas desta prática.
Obstáculos enfrentados
Apesar de serem adeptos de um estilo de vida descontraído, as adversidades fazem parte. Lidam com a opinião pública que, por vezes, não tem fundamento exato ou preciso, não distinguindo autocaravanismo de campismo ou autocaravanas de veículos adaptados – carrinhas que, apesar de disponibilizarem conforto para dormir, não garantem condições de habitabilidade.
Destacam a importância das condições sanitárias de que as autocaravanas dispõem, como água potável, reservatório para água suja e casa-de-banho. Estas comodidades permitem aparcar e pernoitar sem causar danos ambientais, o que não se equipara aos veículos adaptados. Assim, sugerem a aplicação de uma taxa extra para quem permanece num local ou até, em casos excecionais, a inibição.
Lutam não só pela liberdade de circulação como também pela sinalização adequada que, na opinião dos membros do clube, deve ser regulamentada e soluções apresentadas.
“Temos como visão num futuro muito próximo, ultrapassar os obstáculos impostos atualmente a fim de vivermos todos em comunhão, usufruindo do nosso direito de escolha e liberdade aliado sempre ao dever de proteção e sentido de responsabilidade para com o próximo, bem como com o planeta”
Por fim, salientam o elevado preço dos parques de campismo: “Paga-se 25€ por umas horas de pernoita (20:00 horas às 09:00 horas por uma autocaravana com duas pessoas)” e o terreno acidentado que não é indicado para estes veículos. Reivindicando assim, a redução das quantias ou a criação de mais ASA.
Não obstante à proteção que a Federação Portuguesa de Autocaravanismo exerce sobre os direitos dos autocaravanistas, pensam que é necessário alterar conceitos e apostar na assertividade com os clubes para que todos tenham “uma única voz” pela defesa do autocaravanismo. Reconhecem que é fundamental dar a conhecer a realidade desta prática e consequentemente melhorar as suas condições.
fonte: https://revistavitae.com/